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Conheça projetos que levam dinheiro, educação e futuro para a Amazônia

Na série sobre esperança e meio ambiente, conheça os guardiões da floresta amazônica Na série de reportagens sobre recuperação ambiental, que o Jornal N...

Conheça projetos que levam dinheiro, educação e futuro para a Amazônia
Conheça projetos que levam dinheiro, educação e futuro para a Amazônia (Foto: Reprodução)

Na série sobre esperança e meio ambiente, conheça os guardiões da floresta amazônica Na série de reportagens sobre recuperação ambiental, que o Jornal Nacional apresentou nesta semana, nós fomos nesta sexta-feira (31) à Amazônia. Junto da floresta vive uma parte da população brasileira que trabalha e produz mantendo as árvores de pé. Sons da floresta. O japiim da manhã. O cricrió do entardecer. E, à noite, o gerador “Esse barulho todo é coisa estranha para floresta. E até ali no meio do mato a gente escuta ele, o barulho. E aí quem vive daqui da natureza não consegue nada”, diz Tomas Correia Santana, cacique da aldeia Aningalzinho. Ser líder do povo Tupaiú é fazer todos os dias essa escolha difícil entre o barulho e a escuridão. O cacique se decidiu por um meio-termo. “Ela só é ligada das 19h até as 22h30, quando tem o óleo. Quando não tem, continua no escuro”, conta o cacique. "Oitenta a 90% das comunidades da região amazônica ainda utilizam o diesel vendido a preços muito, muito elevados para as comunidades pobres, isoladas, e transportado através dos rios”, afirma Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável/ USP. “As comunidades não têm capacidade financeira de manter eletricidade à base de diesel. Então, acaba que eles não podem ter na sua casa uma aguinha gelada, não podem conservar alimentos”, diz Eugênio Scannavino Netto, médico sanitarista, fundador do Projeto Saúde e Alegria. Irenilce teria peixe para semana inteira se tivesse uma geladeira e uma tomada onde ligar. “Quando não tem a energia, a gente conserva desse jeito que está aqui, no varal. A gente passa no sal , abre e coloca aqui no varal para secar, para que ele fique conservado para alimentação da gente”, conta Irenilce Kumaruara, cacica da aldeia Vista Alegre do Kapixauã. Na Amazônia, 1 milhão de brasileiros vivem isolados, sem energia elétrica. Indígenas ou ribeirinhos, vizinhos na rua líquida e imensa. São os guardiões da floresta. “Às vezes, quem não é daqui acha que é só um tapete verde sem ninguém. Debaixo da floresta tem gente, e é um povo que precisa também de saúde, de saneamento, de energia”, afirma Caetano Scannavino, coordenado do Projeto Saúde e Alegria. Projetos levam dinheiro, educação e futuro para a Amazônia Jornal Nacional/ Reprodução Sim, os problemas são gigantes onde tudo é gigante. Quantas vezes é preciso lembrar que não estamos no oceano? Rio Tapajós, no interior do Pará. Estado que tem na bandeira uma estrela, mas o sol bem que merece um lugarzinho ali também. Está mudando a vida de quem mora por lá. Infelizmente, a energia não pode ser levada de barco. Assim, muitas comunidades ribeirinhas encontraram um outro caminho: pelo alto. Está pronta a máquina do tempo. A placa solar representa um salto de mais de um século para muitos lugares que até meses atrás viviam na escuridão. A luz chegou na aldeia Esperança para iluminar a espera da Adriane dos Santos Mota pelo quarto filho. O mundo em torno da barriga onde ele cresce foi mudando rapidamente. “O que mudou foi a energia. Porque, antigamente, a gente usava lamparina. É o primeiro filho que eu vou ter no claro. Hoje eu digo: isso vai facilitar muito para nós, principalmente no cuidar da noite. Melhorou foi muito para nós”, diz a ribeirinha Adriane dos Santos Mota. A estrada é linda, mas o caminho é longo. A cidade mais próxima fica a oito horas de barco. Em uma região urbana, uma placa solar representa uma conta de luz mais barata, a valorização do imóvel e até a tranquilidade de uma fonte de energia inesgotável. Lá, em um lugar tão remoto, a energia solar pode representar para as pessoas a própria vida. Tudo começou com elas: as vacinas. O médico Eugênio foi para a Amazônia em 1984 e se impressionou com a perda de vacinas pela falta de refrigeração. “Essas comunidades estão aqui na Amazônia enfrentando os piores indicadores sociais do Brasil. Mas elas estão aqui defendendo essa floresta para todos nós do planeta”, afirma Eugênio. Nasceu então o projeto Saúde e Alegria, que levou a energia solar. E graças a ela, que venham as novidades. Sem sair da cidade, a médica atende no coração da floresta. Sem sair da Amazônia, a Solene aprende a mexer no computador e a Edilena pode ver as notícias. “Assistir a um jornal porque é um direito. Tem que saber como está rolando no mundo”, diz a trabalhadora rural Edilena Cristina Teixeira Oliveira. Só não dá para esperar sete horas se a energia falhar. Então, é só chamar a eletricista que vive lá. Quando as placas chegaram, há seis meses, Fabrícia recebeu treinamento e se tornou uma eletricista do sol. Mal sabia ela que, junto com a novidade, iria encontrar uma antiguidade: o machismo. Fabrícia: Eles falam que não botam fé na gente. Pedro Bassan, repórter: Olha meio de cima para baixo? Fabrícia: ‘Tu vai montar? Vai saber fazer isso?’. Eles não acreditam. Aí vou lá, faço. Está vendo como eu sei? A gente está conseguindo, firme e forte. Graças a Deus, está dando tudo certo. Projetos levam dinheiro, educação e futuro para a Amazônia Jornal Nacional/ Reprodução Uma força que até ele aprendeu a respeitar. Em que outro lugar do planeta, a existência muda em ritmo tão acelerado. Santarém, no Ecocentro. E se esse não parece muito o nome de uma fábrica, é só para mostrar que floresta e produção em grande escala podem conviver em paz. Começou meio ideia, meio sonho. “Por que não só uma estrada pensada para trazer a soja do Mato Grosso para Santarém? E por que não, então, o caminhão voltar com produtos da floresta beneficiados com valor agregado para o comércio em São Paulo, por exemplo?”, questiona Caetano Scannavino E não é que funcionou? “Existe o produto da própria natureza e existe o mercado. Então, tudo que se produz dentro da floresta - não só da floresta, mas da agricultura familiar - é comerciável”, diz Manoel Edivaldo Santos Matos, presidente da Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Pará. Hoje, o que é processado lá vai pra grandes indústrias. Sem saber, você já pode ter passado no rosto o óleo de andiroba. "A gente tem 46 bioativos da Amazônia em nossos produtos. Hoje eu posso te dizer que 50% da nossa linha de produtos vem da Amazônia", diz Ana Costa, vice-presidente de Sustentabilidade da Natura. Sem perceber, você talvez esteja pisando nessa borracha. "É uma borracha que não é plantada. É uma árvore nativa. Então, quando a gente está comprando essa borracha nativa, a gente está incentivando a floresta a estar de pé, e a gente está gerando renda para as famílias que moram na floresta", afirma Luciana Pereira, diretora de cadeias produtivas da Veja. Outra peculiaridade da fábrica é a conta de luz: zero. A energia solar faz sucesso na Amazônia, apesar do sol. Os melhores locais de incidência solar no Brasil estão em uma área que vai do Centro-Oeste ao Nordeste. A Amazônia não está nessa faixa. Imagina se estivesse. Nos lugares mais remotos, basta uma placa, e a energia cai do céu. “O primeiro impacto que eles tiveram quando toda a comunidade foi atendida foi a questão do barulho. Eles ficavam em um silêncio que saíam na porta das casas e ficavam assim: Nossa! Olha só, a gente consegue até se escutar, consegue até se ouvir melhor, consegue até ouvir o próprio barulho ali da floresta ou dos bichos cantando”, diz Jussara Salgado, coordenadora de infraestrutura comunitária do Projeto Saúde e Alegria. E assim, as forças da natureza se prepararam para anoitecer. Na casa de uma guardiã da Amazônia, é hora de ouvir uma voz amiga. Estava chegando a hora do parto da Adriane, e a agente de saúde foi para uma última consulta. São gestos de rotina. Só mesmo para ter certeza de que, à noite, o verdadeiro som que brota da floresta é a pura esperança. LEIA TAMBÉM Série especial do JN mostra iniciativas de recuperação dos biomas do Brasil Conheça produtores brasileiros que ‘plantam água’ no Centro-Oeste para proteger fauna e flora do Cerrado